O MESTRE PETER DANOV – VIDA E OBRA



Konstantin Zlatev



(Palestra apresentada em 01.07.1999 na cidade de Plóvdiv, Bulgária,

durante o Mês Europeu da Cultura)





I.INTRODUÇÃO



  1. O sentido da vida



Assim que o homem se torna consciente da própria inteligência, ele se engaja na busca incessante do sentido de sua presença na Terra. Este, que é nosso maior problema ontológico, oculta em si uma vasta gama de possibilidades para a formação de um conceito sobre a vida. A resposta, precisa e refletida, determina em grande parte o caminho de vida daquele que amadureceu para segui-lo.

À primeira vista, pode parecer abstrata esta introdução à vida e contribuição de um dos mais elevados Mestres Espirituais da humanidade. Para se pronunciar sobre a essência de uma manifestação Divina como esta, é necessário utilizar a água viva oriunda das fontes da Sabedoria Universal, sintetizar a experiência milenar concentrada na Filosofia, na História e no conhecimento espiritual da espécie Homo Sapiens. Somente com essas condições nos arriscamos a levantar um cantinho da cortina do drama universal, cujo personagem principal é o próximo Enviado Autorizado do Supremo, sendo nós, os simples mortais, espectadores ou participantes, na medida de nossas possibilidades, e em proporção à capacidade de penetrar nos mistérios do Espírito. Mas tanto ainda permanece oculto a nossos olhos, físicos e imateriais... Um oceano de ensinamentos sobre a Verdade, aquela que desde os tempos remotos guia o mundo em direção ao bem. Um conhecimento infinito e eterno, capaz de suprir todas as necessidades e buscas espirituais do ser humano.

Em nossa modesta opinião, o objetivo final da existência humana é a Perfeição Divina, definida pelo Mestre dos Mestres, Nosso Senhor Jesus Cristo, em Seu sermão na montanha (Mateus, 5:48). O sentido da vida é o contínuo desenvolvimento e aperfeiçoamento, espiritual e moral, para atingir o que é chamado no cristianismo de semelhança com Deus. A importância de nossa presença na terra consiste em dar e receber Amor, incessantemente e com todo o nosso ser. Ele é o fio que liga o sentido e o objetivo da vida. É a oferenda mais valiosa e o prêmio mais digno diante do altar da imortalidade.

Às vezes basta um contato instantâneo com a obra de um verdadeiro Mestre espiritual para compreender tudo isso. E a maneira mais segura de unir-se a Ele para sempre é seguir-Lhe os passos.



  1. A missão dos Grandes Mestres espirituais da humanidade



Toda cultura e civilização humana aparece e se desenvolve seguindo um poderoso impulso advindo da sublimidade Divina. O velho é destruído, só se preservando o que poderá servir na colocação dos alicerces do Novo.

O Mestre espiritual – o Enviado dos Céus – é aquele que encarna no plano real o impulso para acabar com o inútil, o velho e transitório, e construir o que virá, de acordo com o plano Divino. O grau de um Mestre é determinado pela grandeza de sua missão, pela escala da mudança que foi enviado a realizar. Quando começam a brotar no mundo inteiro as sementes da renovação que ele traz para a evolução espiritual da humanidade, então falamos de Mestre Universal. Este é sempre uma encarnação do Princípio Crístico Universal – o Verbo, que, desde a alvorada da humanidade, trabalha sobre nossa mente, coração e alma, para iluminá-los e inspirar-lhes a força de recriação. Ele é sempre portador da combinação milagrosa de Sabedoria e Amor Divinos, pronto para doá-los a todos os que estejam maduros para recebê-los conscientemente.

O Mestre é o semeador (veja a parábola de Jesus em Mateus, 13: 3-9), e os discípulos são os lavradores do campo de Deus, que têm o dever de cuidar dos frutos da plantação e distribuí-los entre os que seguem o Caminho espiritual. Por esta razão, o Mestre forma uma Escola, onde doa a preciosa pérola do conhecimento a um determinado círculo de alunos. Estes representam o elo vivo entre ele e a sociedade, são os transmissores de suas idéias grandiosas, precursores do Novo Ensinamento, apóstolos (e freqüentemente mártires) da transição para um grau superior na evolução universal.

Os Mestres Universais vêm periodicamente à Terra como Enviados de uma Hierarquia superior, que existe e funciona no Universo espiritual, tendo projeções em todos os planos materiais (galáxias, sistemas estelares, planetas). Um dos nomes pelo qual é conhecida essa Hierarquia é Grande Fraternidade Universal (Loja Universal). Trata-se da hierarquia de seres inteligentes que, há milhões ou mesmo bilhões de anos, terminou a etapa terrestre (planetária, material) de sua evolução. Eles estão cumprindo a missão que lhes foi atribuída diretamente por seu Senhor – o Criador do mundo visível e invisível: governar e dirigir o desenvolvimento do Cosmo inteiro, isto é, de tudo que existe.

Um desses Mestres Universais, a quem é dedicado o presente artigo, é o Mestre búlgaro do Amor, Peter Danov, conhecido pelo nome espiritual de Beinsa Dunó.



  1. PEQUENA BIOGRAFIA DE PETER DANOV



  1. Origem: infância e adolescência



Peter Konstantinov Danov nasceu em 11 de julho de 1864 no povoado de Hadârcha (hoje Nicoláevka), na região de Varna. Pelo antigo calendário religioso ortodoxo, era dia de São Pedro. Por isso, o recém-nascido recebeu o nome de Peter.

O pai de P. Danov foi um ilustre ativista do Renascimento búlgaro, o pop (padre) ortodoxo Konstantin Danovski (20.08.1830 - 13.11.1918). Era um sacerdote e educador do mais alto nível, cujos méritos diante do povo e da Pátria reservam-lhe um lugar digno no panteão dos gloriosos da Bulgária. O nome de Konstantin Danovski está relacionado com um dos períodos mais turbulentos e importantes da história búlgara. Ele nasceu no pequeno vilarejo de Ústovo, na montanha dos Rodopes. Sentiu muito cedo o desejo de dedicar a vida a Deus. Partiu para o mosteiro de Aton em Svetá Gorá (hoje Grécia), com a intenção de tornar-se monge. Seu caminho passava pela cidade de Sólun, onde ele parou para dirigir preces ao Senhor, pedindo coragem e apoio para seguir a via escolhida.

Mas Aquele que conhece os anseios do coração melhor do que ninguém havia decidido algo diferente. Ao entrar na antiqüíssima igreja de São Demétrio, Konstantin encontrou um velho monge, enviado pela própria Providência. A conversa que se seguiu, que durou horas, não teve nada de convencional e abalou profundamente a consciência do jovem. Este único contato com o servidor divino mudou completamente a vida de K. Danovski. Ele voltou para a Bulgária, convencido de que é possível servir a Deus em qualquer lugar, e que, mais do que nunca, seu povo precisava dele. Casou-se com a filha de Atanas Gueorguíev, um nobre do povoado de Hadârcha, e tornou-se sacerdote ortodoxo. A mãe de Peter Danov, Dobra Atanassova Gueorguíeva, é lembrada pelos contemporâneos como uma mulher tranqüila e serena, características herdadas por seu filho caçula, Peter. Desse casamento nasceram, além de Peter, Maria, a filha mais velha, e mais um filho.

Por oito anos (1860-1868), K. Danovski atuou como padre na igreja de Nossa Senhora, em Varna. Em 17 de janeiro de 1865, ele fez a dedicação da primeira igreja de São Miguel Arcanjo nessa cidade. O tempo todo, participou intensamente da vida social. Foi o primeiro a mobilizar os ricos búlgaros da região para a formação de uma comunidade escolar e religiosa, que dirigiu nesses oito anos. Em 1873, elegeram-no presidente do conselho da paróquia de Varna. Durante a Guerra entre a Rússia e a Turquia (para libertar a Bulgária do jugo turco), ficou sete meses preso, acusado de ser agente russo. Após esse período, voltou a servir como sacerdote na igreja de São Miguel Arcanjo, onde ficou até 1898.

Talvez ele tenha sido o primeiro a compreender profundamente a missão do filho Peter. O relacionamento entre eles não era apenas de pai e filho, mas uma ligação calorosa de amizade, afeto, compreensão e compaixão.



Peter Danov freqüentou a escola fundamental na cidade de Novi Pazar, e depois em Varna, onde seu pai servia. Em 24 de julho de 1887, formou-se na Escola Americana de Teologia na cidade de Svistov, destacando-se nas disciplinas de Teologia e Música. Em seguida, foi enviado como professor para a pequena cidade de Hotanza, perto de Russe.

Desde pequeno, Peter demonstrou profundo interesse pela música, que se tornaria sua arte preferida. Quando aluno, começou a tocar violino, e o amor por esse instrumento durou toda a sua vida. Foi com ele que mais tarde transmitiu aos discípulos inúmeras canções e melodias, cuja estrutura sonora original era o veículo de um profundo conteúdo espiritual. Essas composições, criadas para as atividades da Escola que ele fundou, eram ali utilizadas.



  1. Juventude: Estudos na América do Norte



Aos vinte e quatro anos, o jovem Peter encontrava-se em um ponto crucial de sua vida. Junto com o diploma da Escola Americana de Teologia, recebera a habilitação de ministro qualificado da igreja protestante. Tinha todas as possibilidades de fazer uma carreira brilhante como pastor evangélico na Bulgária. Mas algo lhe dizia que deveria ainda percorrer um longo caminho de estudos, para adquirir o conhecimento de sua época e uni-lo à chama divina que crescia dentro dele.

Em agosto de 1888, ele parte para os Estados Unidos. Lá, freqüenta os quatro anos do Seminário Teológico da Universidade de Drew, em Madison, completando, em seguida, o curso de dois anos da Faculdade de Teologia da Universidade de Boston – o diploma universitário de teólogo data de 4 de junho de 1894. Durante o ano escolar de 1893-94, faz também um breve curso de Medicina Geral na Faculdade de Medicina de Boston; o certificado é de 13 de fevereiro de 1894. Peter Danov permanece sete anos nos Estados Unidos, até 1895. O que lhe trazem esses anos – além dos diplomas de graduação, além do Mestrado na Universidade de Boston, com o tema da migração e cristianização das tribos germânicas?



A segunda metade do século dezenove caracteriza-se por uma intensa onda do eterno desejo do homem de desvendar a verdade sobre a vida e sobre si mesmo. Aparecem inúmeros movimentos, conceitos filosóficos e religiosos, escolas e correntes místicas e espirituais. Naturalmente, o Novo Mundo está no foco de todos os acontecimentos. Nos Estados Unidos, a Guerra Civil acabava de terminar. A civilização americana passava por um desenvolvimento acelerado em todas as áreas da vida social. O país se tornou o destino de grandes massas de imigrantes – força renovadora com uma carga intelectual diferente, guiada pelo desejo de auto-afirmação e pelo novo ideal. E eles o conseguiram. No decorrer de algumas décadas, esses imigrantes transformaram os Estados Unidos no berço do progresso, o país dos sonhos, a meta de tantos estrangeiros, um verdadeiro exemplo do triunfo da razão e da determinação humanas.

Durante os sete anos nos Estados Unidos, Peter Danov entra em contato com tudo isso. Conhece pessoalmente as idéias que abalam os fundamentos do conhecimento e acabam formando o novo conceito de vida da época: espiritismo, teosofia, intuitivismo, fenomenologia, várias formas de idealismo. Os alicerces da nova imagem científico-filosófica do mundo estão sendo colocados –processo cuja realização testemunhamos ainda hoje. E este é o momento de afirmar que, sem a contribuição de Peter Danov para essa sublimação que toca tudo, sem a herança espiritual e cultural deste grande e ainda pouco conhecido búlgaro, hoje não seríamos capazes de discernir o que está por vir e o que temos de fazer para chegar ao lugar desejado.



Mas naquela época, logo após os anos de estudo, ele mesmo ainda tinha um longo trajeto a percorrer para receber a coroa eterna de sua vida. Precisaria enfrentar o caminho exterior, em inevitável contato com a realidade, com as inúmeras tentações e provas a que é submetido o espírito, e através das quais ele se desenvolve e fortalece. Ao mesmo tempo, havia também o caminho interior, que ele devia trilhar para descobrir a verdade sobre o objetivo de sua existência na Terra.

O ano é 1895. Peter Danov volta para a Bulgária.



  1. De volta à pátria; a iluminação



Retornando à Bulgária, Peter Danov encontra uma grande e profunda diferença entre o que tinha vivido até então e a realidade de seu país, próxima e conhecida, mas ao mesmo tempo alheia e estranha. Os ideais de renascimento da Pátria tinham sido sufocados por brutais ambições de poder e riqueza, pelo carreirismo, abuso do poder social e corrupção. Dominava uma nova situação, inevitável, feia e repugnante.

Com o diploma da renomada universidade americana, o jovem Peter Danov começa a procurar um espaço no meio desse drama social. Todos os seus estudos, na Bulgária e nos Estados Unidos, tinham sido patrocinados pela Igreja Metodista Protestante. Era lógico que, depois de tantos anos de qualificação, ele recebesse a proposta de ocupar o cargo de pastor dessa Igreja – o que ocorreu na cidade de Iambol. Peter Danov aceita, com uma condição: que o trabalho não seja remunerado. Em sua opinião, não se pode servir a Deus por dinheiro. Temendo que o caso abra um precedente, os dirigentes retiram a oferta.

Assim, o jovem Peter foge aos padrões de todos os sistemas religiosos. Mas, antes de enfrentar a tempestade, ele resolve procurar um lugar tranqüilo, onde possa se recolher e preparar-se para seguir o caminho designado. Vai a Varna, e lá mora durante dois anos na casa de sua irmã Maria. Nesse período, publica seu primeiro livro, Ciência e educação (1896). Nele expõe os princípios, métodos e leis fundamentais sobre cuja base, mais tarde, desenvolverá seus conceitos espirituais e filosóficos a respeito dos eternos princípios da natureza viva e do homem, e da transmutação da humanidade e do mundo.

Em 1897, Peter Danov se estabelece em Novi Pazár, na casa de seu pai, o padre Konstantin Danovski. Lá, recebe mais duas propostas de emprego: um na administração do Metropolita Ortodoxo de Varna e Preslav, e o outro como agente da Sociedade Teosófica na Bulgária. Recusa ambas. É desse período o seu segundo livro, O Testamento dos Raios de Luz (1897), que reúne interpretações importantes de alguns versículos bíblicos e contém, segundo o próprio autor, os trechos das Escrituras Sagradas que lhe foram ditados diretamente pelo Espírito.

Mas o acontecimento mais importante data de 7 de março de 1897, um pouco antes que P. Danov completasse 33 anos (a chamada ‘Idade de Cristo’). Nesse dia, ele recebe do mundo invisível a iluminação sobre sua missão. Chegam as respostas a todas as perguntas: quem é ele e o que o Céu espera de sua presença na Terra. Aquele que o havia enviado e lhe revela agora sua missão também lhe atribui forças invencíveis e esperança na realização do Plano Divino.

Começa uma nova jornada, não somente para os búlgaros, mas para toda a humanidade. Contudo, por mais poderoso que seja o espírito de um Mestre Universal, sua missão seria impossível sem a presença dos discípulos – guerreiros fiéis na batalha entre a Luz e as trevas. Almas antigas, testadas em inúmeros combates contra a loja negra, prontas para seguir seu Divino Mentor. Apóstolos, destinados a receber e espalhar a Luz da renovação cósmica por todos os cantos da terra.

Chega o momento de Peter Danov declarar sua presença e revelar ao povo búlgaro o motivo de sua vinda à terra; é tempo de procurar e reunir discípulos.



  1. O começo da Obra entre os búlgaros



Em 08 de outubro de 18981, em Varna, o jovem e desconhecido Peter apresenta, na sociedade beneficente ‘Compaixão’, uma palestra intitulada “Apelo a meu povo – filhos búlgaros da família eslava”. Passara-se um ano e meio desde seu ‘batismo’ pelo Espírito; após este período de reflexão e meditação, ele dava o próximo passo: anunciar à sociedade a responsabilidade que assumira diante de Deus pela Bulgária, pelos povos eslavos e toda a humanidade. Não por acaso, chamou a conferência de ‘apelo’. Podemos considerá-la como uma espécie de cartão de visita, com o qual P. Danov se apresenta aos búlgaros e à sociedade mundial. No chamado, dirigido a todas as almas despertas de seu tempo, ele destaca três momentos importantes:



    1. A característica principal da época contemporânea: a transição global de um nível da consciência humana para outro, mais elevado – em linguagem esotérica, a “formação da Nova Cultura da VI raça”.

    2. Sua missão como Mestre Universal, emanação do Espírito de Cristo: transmitir ao povo búlgaro, e a toda a humanidade, o Novo Ensinamento, o mais atual e adequado para a presente etapa da evolução humana na Terra, para a busca espiritual e moral do homem moderno. Trata-se do cristianismo atualizado para o nosso tempo, purificado dos preconceitos acumulados durante os séculos. Neste sentido, o Ensinamento faz um amálgama dos valores principais do cristianismo com a sabedoria milenar do Oriente (espiritual e geográfico) e, ao mesmo tempo, possui uma originalidade e peculiaridade próprias. Tem um caráter universal, afirmando-se com as qualidades de ciência e filosofia de vida.

    3. A missão do povo búlgaro: receber e assimilar o Ensinamento de seu Mestre, protegê-lo e aplicá-lo na vida, divulgando-o entre os povos eslavos e no mundo todo.



Peter Danov terminou o apelo da seguinte forma: “Eu sou Elohim, o Anjo do Testamento Divino”. Com esta assinatura, ele se declarava representante da Suprema Hierarquia Divina (‘Elohim’ é um dos nomes de Deus no Antigo Testamento), manifestação do Segundo aspecto da Trindade Cristã. (O ‘Anjo do Testamento Divino’ é definido na Bíblia como uma manifestação concreta de Deus – do Verbo, do Logos, ou seja, do Segundo aspecto da Santíssima Trindade).

O período entre 1895 e 1900 é passado em quase completo isolamento, dedicado principalmente ao trabalho interior. Em 1900, Danov termina a obra Sete conversas com o Espírito Divino, resultado de suas buscas e reflexões místico-ocultas.

O ano de 1901 marca uma nova etapa. Ele inicia uma série de viagens pela Bulgária, visitando muitas cidades, povoados e vilas, onde dá palestras que apresentam um conhecimento novo, não convencional e ainda não reconhecido por completo, mas interessante e cativante – o ensinamento oculto sobre o Universo e o homem. Paralelamente, estuda a conformação craniana de alguns de seus ouvintes e faz sua análise frenológica. As palestras, com entrada franca, são recebidas em toda parte com grande interesse. Em doze anos, ele percorre todo o país, ensinando, orientando e estudando profundamente os búlgaros. É deste período a correspondência com os primeiros discípulos: Penio Kirov, de Burgas; Todor Stoímenov, de Pázarjik e o Dr. Gueórgui Mírcovich, de Slíven.



5. Os primeiros encontros (Sabori)



Em 6 de abril de 1900, Peter Danov convida os três primeiros discípulos para um encontro em Varna. Em julho do mesmo ano, organiza-se o primeiro Sabor (encontro, assembléia em búlgaro), com a participação dele e dos primeiros discípulos. É por este acontecimento que 1900 é considerado o ano de fundação da Sociedade Espiritual ‘Fraternidade Branca’ (Biáloto Brátstvo) na Bulgária. O Sabor inclui passeios, discussões sobre problemas ético-espirituais, orações, etc. Nos anos que se seguem, as reuniões da Fraternidade Branca tornam-se uma tradição. No começo, só tomava parte nelas quem era pessoalmente convidado por Danov. O segundo e terceiro Sabor ocorrem em Burgas, respectivamente em 1901 e 1902, e o quarto, de novo em Varna (1904). A partir de 1910, os encontros são na cidade de Veliko Târnovo, a antiga capital búlgara. Entretanto, Peter Danov se transfere para Sofia, que se torna o centro de suas atividades.

Entre 1900 e 1944, no mês de agosto, realizam-se Encontros anuais da Fraternidade Branca (excetuando cinco vezes em que eles deixaram de acontecer, por razões políticas internas e externas). Após 9 de setembro de 1944, o regime comunista os proibiu. Com a queda das estruturas totalitaristas da Europa Oriental, um pouco antes de 10 de novembro de 1989, as reuniões são retomadas. De início, elas aconteciam entre 19 e 25 de agosto, todos os anos. Há uma razão para que essa fosse a data inicial. Segundo o Mestre, o dia 1o de janeiro marca o Ano Novo no mundo material; 22 de março, o equinócio da primavera (no hemisfério norte), é o começo do ano para o mundo espiritual; já 19 de agosto é o Ano Novo para o mundo Divino.

Várias vezes, em palestras, o Mestre repetiu que, nas altas montanhas, e principalmente perto dos picos, é possível entrar em contato com forças inteligentes invisíveis, prontas a ajudar os homens em todas as suas ações nobres.

A montanha Rila é, para ele, um dos mais antigos centros espirituais da Terra, o lugar apropriado para estabelecer uma comunicação entre os diferentes mundos e dimensões.

Depois da Primeira Guerra Mundial, o acesso aos encontros passa a ser livre, não mais dependendo de convite ou outras formalidades, tanto para os membros da Fraternidade Branca, como para qualquer simpatizante orientado por um interesse sincero e pelo desejo de ouvir do próprio Mestre a Palavra. Nessas reuniões anuais, arrecadam-se doações voluntárias para o funcionamento da Fraternidade. Uma das principais características do evento é a vivência em comunidade, a ‘vida fraternal’. Cada participante se sente responsável pelos outros e cuida do bem-estar comum. Todas as atividades são coletivas: o programa de orações, o canto, a Paneuritmia, as refeições, a limpeza, os cuidados com o meio ambiente, etc.

***



Depois de se estabelecer em Sofia, Peter Danov começa a dar suas palestras no pequeno espaço onde mora, na Rua Opalchénska, no 66. A entrada é livre e a divulgação é feita boca a boca. O número de ouvintes cresce continuamente.

Até o final da Primeira Guerra Mundial, elas ocorrem apenas aos domingos, às dez horas da manhã. Há na época aproximadamente duzentos e cinqüenta a trezentos seguidores na capital búlgara. Por se declarar abertamente contra a participação da Bulgária na guerra, contra o nacionalismo e o chauvinismo, em 1917 o Mestre é exilado em Varna, onde é forçado a permanecer até o final do ano seguinte.

Após a guerra, o Ensinamento de Peter Danov torna-se ainda mais popular. As trágicas conseqüências da participação do país na guerra estimulam a sociedade a procurar novos ideais e soluções mais humanas para os problemas sociais. O movimento da Fraternidade Branca ganha cada vez mais adeptos e simpatizantes, em todos os níveis sociais. O magnetismo do Mestre atrai e influencia todos em redor. Ele é considerado uma ‘instituição’, em quem se reconhecem poderes de vidente e curador. Mas seu maior poder consiste em ser um exemplo vivo dos ideais que prega. Ele nunca monopoliza para si o conhecimento que divulga; define-o como ‘Ensinamento da Fraternidade Branca’, e chama os que o seguem de ‘discípulos da Fraternidade Branca’.

O símbolo da nova sociedade é a cor branca, alegoria de pureza e sublimidade espiritual e intelectual.



De volta a Sofia, Danov continua a dar palestras, e logo começam a se formar grupos em muitas cidades do interior: Varna, Russe, Iámbol, Gábrovo, Târnovo e outras.



  1. A abertura da Escola



Em 22 de março de 1922, é aberta a Escola oculta Juvenil. Ao definir-lhe a função, Peter Danov diz que ela “não é um lugar para consolar as pessoas, mas uma escola onde se estudam as grandes e eternas leis do Universo, da manifestação de Deus, dentro da qual, proporcional e harmoniosamente, se realiza nossa vida”. O objetivo do trabalho proposto é formar um ambiente espiritual estável, em que se possa aplicar o novo ensinamento. As aulas da Classe Juvenil (também chamada de Classe Especial) vão, cada ano, de 22 de setembro a 22 de março. Além de ouvir as palestras, os alunos recebem a incumbência de refletir sobre determinados problemas, e devem também cumprir tarefas: algumas são escritas e outras consistem em ações concretas. No verão de 1923 (25 - 28 de agosto), realiza-se o primeiro Encontro Juvenil. Nos anos seguintes ocorrem mais oito, durante os quais os participantes se apresentam com suas teses, discutem questões de organização e de divulgação do Ensinamento. Uma das condições para freqüentar a Classe Juvenil é não ser casado; por isso, cria-se paralelamente a Classe Comum Oculta, de que participam as famílias. As aulas da Classe Juvenil são às sextas-feiras, e as da Classe Comum, às quartas. Por volta de 1930, os dois cursos se fundem.



Em sua Escola, Peter Danov transmite aos alunos a verdade sobre o Amor, a fraternidade, o respeito ao próximo. Revela-lhes os segredos da natureza e da essência humana, apresenta métodos para levar uma vida saudável. Durante esses anos, ele se afirma como Mestre e é assim que todos os discípulos passam a chamá-lo.



O próximo passo de grande importância é a formação da comunidade ‘Ízgrev’ (que significa ‘Aurora’), fruto da idéia de vida em conjunto. O principal objetivo é transformá-la em uma “escola de comunhão fraternal, em que o homem superaria e dominaria sua natureza primitiva, despertando e preparando sua Alma Divina para o futura missão”. Assim, a filosofia do Mestre ultrapassa o caráter teórico das doutrinas daquele tempo, tornando-se uma experiência viva.

Em 1928, já existem o pomar, plantações de milho e girassol e a horta, de onde vêm os alimentos para as refeições comunitárias. No mesmo ano, termina a construção do Salão de eventos, incluindo uma pequena moradia no segundo andar para o Mestre. A comunidade está sempre aberta à visita de pessoas de todos os lugares, que vêm participar das palestras, concertos e refeições. Em Ízgrev, o Mestre começa a dar aulas três vezes por semana: domingos às dez horas, quartas e sextas às cinco horas da manhã. Aos domingos, ele sempre inicia com a leitura de um capítulo da Bíblia e, em seguida, comenta algum versículo.

Assim, estava resolvido o grande problema da formação do centro da Fraternidade Branca (Biáloto Bratstvo), um campo real para aplicar e testar a nova proposta de vida. Ízgrev se torna o cartão de visita do movimento, um lugar onde qualquer pessoa interessada pode ver pessoalmente os frutos do trabalho do Mestre e de seus seguidores, que convivem segundo as novas leis da existência.

No período de 1922 a 1926, começam as excursões coletivas na natureza. Em 1929, é organizado pela primeira vez o acampamento de verão, na região dos Sete lagos da Montanha Rila. Logo, isto passa a ser tradição e Rila se torna o segundo centro mais importante do Movimento.



A partir dos anos 1930, os discípulos da Fraternidade começam a divulgar a Palavra do Mestre pelo mundo. Formam-se grupos de seguidores em muitos países europeus. É constituída na França a maior ramificação da Fraternidade, conduzida por Mihail Ivanov. Traduzem-se as palestras e o Ensinamento de Peter Danov em vários idiomas.



  1. Os últimos anos na Terra, a coroa de uma vida



A Segunda Guerra Mundial, evidentemente, causa uma série de dificuldades e limitações ao Movimento, mas os ciclos de palestras semanais não são interrompidos. Lendo-as, percebe-se claramente a tendência a uma conclusão, uma recapitulação do que foi ensinado. Por causa dos bombardeamentos de Sofia, em 1944 o Mestre se transfere com parte dos discípulos para Marcháevo, uma pequena cidade próxima; lá continuam as atividades do movimento. No verão desse ano, realiza-se em Rila o último Encontro antes do advento do regime comunista. Em outubro, Danov volta para Ízgrev e, em 27 de dezembro, termina sua vida terrestre. Suas últimas palavras são: “Foi concluído um pequeno trabalho para Deus”. Para um Mestre Universal, talvez se trate de “um pequeno trabalho”, mas, vista pelo prisma da dimensão terrestre, a obra de Peter Danov tem um potencial grandioso para impulsionar uma mudança radical de nosso mundo. Nas almas prontas para recebê-las, as sementes que ele lançou brotam, dão frutos abundantes e continuarão a fazê-lo. Segundo ele próprio, “nada do que eu disse se perderá, tudo acontecerá; estas são palavras vivas.... Eu transmito um ensinamento que desenvolve a alma, a mente e o coração: traz luz para a mente, renovação para a alma e força ao espírito.”







  1. A HERANÇA ESPIRITUAL E CULTURAL

DO MESTRE PETER DANOV





    1. O Verbo



Em meio século, Peter Danov deu aproximadamente sete a oito mil palestras. O número exato ainda é desconhecido, pois grande parte não está documentada (principalmente as do período de 1901 a 1913, quando ele viajava pela Bulgária). Das que foram estenografadas, parte ainda não foi digitada. Uma classificação possível de seu Ensinamento disponível seria: palestras de domingo, dos Encontros, da Classe Oculta Comum, da Classe Juvenil, apresentações matinais, aulas para as irmãs, palestras complementares, outras palestras e últimos ensinamentos.



  1. O Novo Ensinamento



Para compreender a Nova Vida, precisamos analisar-lhe a forma, o conteúdo e o significado. Segundo Danov, a forma designa o reino material, o conteúdo, o domínio espiritual, e o sentido, o mundo Divino. O conhecimento dinâmico de todos esses níveis é vivo, penetrante, abrangente e de caráter dialético. Não é fruto de uma experiência mecânica, exterior, mas resulta de vivências interiores no ‘laboratório’ da própria pessoa, no conjunto formado por consciência e organismo. Transmitido em linguagem simples, com idéias e imagens compreensíveis, esse conhecimento representa o Novo Ensinamento que o Mestre trouxe à humanidade no alvorecer da Nova Cultura da VI raça. Sua principal tarefa é dar nova direção aos pensamentos, sentimentos e ações humanas. Nortear-lhe a vida, apresentando um ideal e estímulo mais perfeitos, para que o homem moderno possa abandonar a escravidão da ignorância espiritual e entrar no mundo da liberdade e da criatividade, qualidades próprias das hierarquias cósmicas inteligentes. O Novo Saber é um fenômeno de escala universal. Sua carga transcende os limites das três dimensões e a capacidade de autoconsciência. Ele é fruto da Consciência Suprema do Logos solar, refletindo a vida e a evolução universal. Provém do eterno Ensinamento Divino – fonte inesgotável de sabedoria e luz, segundo o qual o mundo e a existência, em sua totalidade, são manifestações de Deus – a Grande Realidade, que cria o Universo e promove a vida.



O seguidor desse Ensinamento aprende a pensar de forma nova, superando todas as contradições de nosso quotidiano pleno de limitações e necessidades. É capaz de ver, atrás dos acontecimentos, a complexa dinâmica dos processos criativos. Estuda os fatos objetivos em seu movimento e desenvolvimento. Sua consciência está sempre alerta e ele considera cada atividade, cada mudança, como expressão da Complexidade Universal. Sabe que o Cosmo é uma emanação da Suprema Divindade, Aquela que criou as condições para a vida e o progresso de todos os seres. O Bem e o mal são as forças polares da vida em sua integridade, e por trás delas existe apenas a harmonia do Amor Divino.



No centro do Novo Ensinamento estão os conceitos de Deus, da natureza, do homem, e a correlação entre eles. O homem incorpora todos os princípios e forças da natureza, todas as sementes Divinas. Seu dever é manifestá-los e desenvolvê-los, alcançando a perfeição. O caminho mais curto e seguro encontra-se no novo conhecimento ensinado na Escola oculta – cujo papel é possibilitar a expansão da consciência humana. O Mestre afirma: “Esta escola segue o Caminho absoluto. Ao optar pelas vias relativas, vocês se excluem dela. Há uma outra escola fora, e tudo faz parte do Plano Universal.”

De fato, a Escola simula uma pequena projeção da humanidade. Dentro dela atuam também as forças invisíveis do mundo espiritual. Poderosas energias vitais abrem a alma dos alunos para o Novo e preenchem-na de fé, força de vontade e paciência para ir até o fim. Todos os grandes Mestres da humanidade formaram escolas e tiveram discípulos que espalharam a chama da recriação por todos os cantos da terra.





  1. Idéias principais



Idéias cosmológicas. “Deus é a entidade cujo centro está em todos os lugares e a periferia, em lugar nenhum”, diz o Mestre. Ele é ao mesmo tempo transcendente e imanente, é o Absoluto, a Mônada central. Ao mesmo tempo, é o Logos da criação incessante, manifestando-se em tudo, dando vida a tudo. Sendo o Absoluto, é a causa originária de tudo que existe. Em sua expressão, Deus é a absoluta e eterna Existência, a vida universal, o amor criativo, a consciência suprema ou do Todo. É a trindade dos princípios cósmicos fundamentais: Amor, Sabedoria e Verdade.

Segundo o Mestre, existem três mundos da emanação: físico (material), espiritual e Divino. O mundo Divino não é idêntico ao físico. O mundo invisível é habitado por seres de diferentes hierarquias, que já concluíram a etapa terrestre de sua evolução. Eles são mediadores entre o Criador e o homem, cumprindo o Plano global para o Cosmo. O mundo é o eterno palco em que a Vida se apresenta. A fonte da vida é Deus, que se manifesta pelo Amor. No Universo prevalece a lei da harmonia. A vida é íntegra, penetrada pela absoluta Sabedoria do Criador. O cosmo é eterno, infinito e espiritualizado.



Idéias ecológicas. Segundo o Ensinamento de Peter Danov, a Natureza é a forma absoluta da existência, uma infinidade inteligente. Nela se afirma a lei da evolução, da perpétua renovação. Imersas no silêncio da Eternidade, nela atuam as forças que afirmam a vida. Isso explica por que o Mestre introduz a expressão ‘Natureza Viva e Inteligente’. A absoluta predeterminação da Natureza, sua ordem e beleza transcendentes são fonte de força Divina e infinita energia interior. Ela não tem passado nem futuro, é jovem e sempre renovada em seu eterno ‘agora’. O Mestre explica: “A Natureza Viva é um conjunto de seres inteligentes, que são os ‘átomos’ da grande e gloriosa criação. O espaço que habitamos é pleno de seres de categorias e culturas diferentes... Por isso, para aquele que possui uma consciência cósmica, o Cosmo todo, com a natureza, é um ser vivo em que tudo se integra.”



Há princípios, forças, energias e leis agindo na Natureza. Existem dois princípios fundamentais: força (atividade) e receptividade. O primeiro atua em prol da individualização, da separação do Todo, o segundo reúne as individualidades. O primeiro ocasiona confronto e destruição e o segundo, paz e harmonia. Assim, o mundo se constrói baseando-se nas duas manifestações de uma só Realidade Primordial. A lei essencial do Universo é a da evolução – o aperfeiçoamento da substância material e sua elevação até o espiritual, alcançando a plena compenetração e síntese com a Causa Originária.



Ética e idéias antropológicas. O homem faz parte da vida cósmica e está na Terra para estudar e criar. A verdadeira essência do ser humano se encontra em sua natureza espiritual. Portanto, o objetivo da existência é, segundo o Mestre, “a expansão da alma, para que o espírito do homem possa conhecer a beatitude”. A evolução espiritual segue as leis do carma e reencarnação. O carma é predeterminado pelas vidas anteriores, mas não de maneira absoluta e imutável. Danov afirma que ele pode ser completamente transformado por um profundo e sincero arrependimento, seguido de ações concretas da consciência purificada e evoluída. O mundo material é a mais importante das escolas cósmicas. Ao passar pelas vivencias necessárias e adquirir conhecimento e habilidades nas diferentes encarnações, o homem segue pelo caminho da evolução, até chegar à síntese com o Absoluto - retornando ao ponto de partida do desenvolvimento espiritual, mas conservando sua individualidade, o colorido único de suas experiências. O caminho para Deus, porém, não é direto, mas passa pelas hierarquias dos mundos e dos seres que os habitam.



Segundo Peter Danov, o ser humano é a maior preciosidade da vida em sua totalidade. É dono do próprio destino, criador de sua felicidade ou infelicidade. Sua existência, individual e coletiva, está absolutamente interligada à vida do Todo e é dirigida pelo Amor e Inteligência Divinos. A alma humana é eterna e imortal. Mas enquanto Deus, o Pai Celestial, é absolutamente constante em Sua eternidade, a alma está em perpétuo desenvolvimento. Todos vivemos em Deus, que tem um amor incondicional pelo homem. Contudo, é necessário alcançar reciprocidade nessa relação: que Deus viva dentro de nós, que despertemos Sua presença em nossa alma e O manifestemos. Para o homem conscientizado no Espírito, o dever para com Deus, o próximo e o Divino dentro de nós é a principal lei da Ética.

Idéias epistemológicas. A teoria do conhecimento de Danov baseia-se na dualidade de nossa natureza, que é espiritual e material. O verdadeiro conhecimento procura desvendar o lado espiritual da existência. As formas materiais são apenas um reflexo do conteúdo real, necessário para expressar o sentido interior da vida. Com os sentidos, o homem consegue conhecer apenas o lado formal, simbólico, da realidade. Mas antes de estudar o conteúdo, é preciso conhecer o que resulta dele.

Se se conscientizar de sua origem Divina, o ser humano será capaz de compreender os processos, forças e leis da vida. A fé, como princípio da mente humana, é condição necessária para o progresso do conhecimento. A Verdade é a manifestação de Deus, que, sendo Absoluto – eterno e infinito –, não é completamente conhecível. Por isso, ela não pode ser descrita nem aprisionada dentro das categorias de nossa consciência. O conhecimento é o despertar da consciência individual. E a consciência é a expressão da responsabilidade do ser humano, vindo a esta vida para trabalhar por sua evolução e a de toda a humanidade. O verdadeiro conhecimento do homem tem de ser vivido, experimentado. Esse saber torna-o mais próximo da harmonia cósmica, proporciona vida e renovação. A Verdade é o objetivo final da existência. Além dela não há nada. E ela não pode ser explicada, mas vivenciada.



  1. A Nova Cultura



O ponto mais importante da filosofia do desenvolvimento de Peter Danov é a convicção de que, atualmente, nosso planeta e a humanidade, que é parte dele, estão entrando em uma nova era. Surgem novas energias e vibrações, emitidas pelo Grande Centro Inteligente. Durante esta Era, a Terra sairá da décima-terceira esfera do sofrimento e entrará no período regido pelo signo de Aquário.

Do ponto de vista astrológico, este período durará 2.160 anos. Entre os homens

surgirá a sexta raça oculta, uma transição de seres humanos para anjos. A Nova Cultura dessa raça será uma cultura de Amor e altruísmo. Virá “a vida em que reinará a plena liberdade e o Amor será a lei para todos.... Chegará o reino da justiça. Guiado pelo conhecimento, o homem dominará os elementos naturais e também suas paixões, tornando-se livre e inteligente.”

Durante a Nova Era, sob o signo de Aquário, surgirão novas forças, por meio das quais o ser humano conseguirá entrar em contato com os mundos e realidades mais elevados da Existência. O Homo Sapiens aprenderá que a mudança das culturas é somente mudança dos cenários do eterno drama da vida.

Para o Mestre, a Nova Cultura terá os seguintes aspectos principais: 1) grande importância da mulher na vida social e igualdade absoluta de direitos entre ela e o homem; 2) respeito aos direitos individuais e coletivos, incluindo os dos povos pequenos e minorias étnicas; 3) reabilitação dos estratos sociais carentes. Baseada na sabedoria espiritual do Oriente e fazendo uso das conquistas intelectuais do Ocidente, a Nova Cultura proporcionará um conhecimento muito mais profundo e completo, uma nova visão de mundo.







2. A Música

A música teve um papel especial na vida e no ensinamento do Mestre Peter Danov. Foi sua arte preferida desde a infância. “A música é necessária para a consciência e para a alma do ser humano. Ela expande a consciência, eleva o espírito, enobrece a alma e ajuda no pensamento”, ele diz. Segundo o Mestre, a natureza foi criada com base em tons musicais; por isso é preciso conhecer as características e o poder de cada um deles. O pensamento humano também segue as leis da música. Seu nível mais elevado é a oração. A vida consciente é música. Quanto mais musical uma pessoa, melhores suas faculdades de raciocínio. Danov afirma que a música da nossa época está sendo marcada por um novo ritmo, uma nova tendência – a síntese das características das músicas ocidental e oriental. Aproxima-se o período da música evolutiva, que será usada como um dos meios mais potentes que existem para a afirmação da Nova Cultura.

O Mestre dedicou inúmeras palestras à música, acentuando seu poder de curar e educar. Nos exercícios ocultos, a música e o canto harmonizam a pessoa, proporcionam tranqüilidade e tonificam a psique. Para ele, “o canto é a arte mais complexa dos anjos” e a música é a expressão sublime do Amor. Sem ela, o Amor não pode manifestar-se no mundo material.

Com seu violino, o Mestre transmitiu aos discípulos mais de duzentas canções e melodias, registradas por músicos profissionais que faziam parte do Movimento. Ele chamava ‘exercícios ocultos’ a essas mensagens dos mundos desconhecidos. Suas criações musicais foram reunidas em coletâneas, as pesniárqui. Elas guardam as revelações de um grande espírito, que expressou de forma singular a beleza e a verdade do Universo, criando um quadro sonoro de incrível profundidade mística. Algumas músicas foram arranjadas e são hoje executadas por orquestras e corais em várias partes do mundo.



  1. A Paneuritmia



O terceiro dos componentes mais importantes da herança espiritual e cultural do Mestre Peter Danov é a Paneuritmia – um sistema de exercícios físicos simples acompanhados por música, cujo objetivo é harmonizar as energias do ser humano com as da natureza. O próprio nome Paneuritmia poderia ser traduzido como ‘Supremo Ritmo Cósmico’. É um conjunto de movimentos que condiciona o corpo, desperta a consciência e faz florescer as virtudes ocultas em nossa alma. A Paneuritmia é dançada na natureza, onde o ser humano está em contato com forças do mundo visível e invisível. Os movimentos são suaves, moderados, e envolvem a participação de todo o corpo. Se os realizamos de manhã cedo, podemos aproveitar ao máximo os primeiros raios de sol – que são os mais benéficos para nosso organismo. Os músculos trabalham, a respiração melhora, a circulação sangüínea se acelera e o sistema nervoso se fortalece. O efeito da Paneuritmia é completo: o corpo fica mais forte e a alma, renovada.

A Paneuritmia tem também valor estético. Ela desenvolve o ritmo e a percepção musical. O próprio Peter Danov o explica: “A Paneuritmia tem leis profundas, que permitem ao ser humano entrar em contato com as energias vivas da natureza, promovendo uma permuta entre ambos. Ela favorece o desenvolvimento de faculdades ocultas no homem, e abre sua alma para o bem, a justiça e a beleza.” Cada um dos movimentos paneurítmicos é a expressão de uma idéia nobre e construtiva. Eles constituem uma linguagem viva, são um código para desvendar e aplicar as mensagens espirituais em nossa vida terrestre. O ritmo, o pulso do Cosmo se projeta no ser humano, despertando suas forças e energias construtivas. O impulso de união entre o espírito e a matéria envolve todos os participantes do círculo com os fios invisíveis do Amor Cósmico.

Atualmente a Paneuritmia é dançada em muitos países do mundo todo, unindo as almas despertas e preparando a Terra para sua Primavera Cósmica.











  1. Conclusão



    1. A avaliação do tempo



Séculos e milênios alternam-se no ritmo da Eternidade, deixando para trás tudo que é pequeno, quotidiano e passageiro. Só permanece brilhando a imagem preciosa do transcendental e eterno. As citações abaixo mostram como alguns dos grandes contemporâneos do Mestre Peter Danov o viam:





Hoje em dia, o maior filósofo presente na terra é Peter Danov.” (Papa João XXIII, então cardeal Angelo Roncali, representante do Vaticano na Bulgária no período de 1924-1934)



Em 1910, um dos futuros discípulos do Mestre, chamado Boyan Boev, estudava com Rudolf Steiner. Steiner lhe disse uma vez: “Os eslavos têm uma grande missão a cumprir. Eles, e a Bulgária em particular, darão uma enorme contribuição à elevação espiritual da humanidade. Não tenho nada a ensinar-lhe. Volte para a Bulgária; o Mestre Universal já está trabalhando lá.”



O Mestre Universal está na Bulgária.” (Krishnamurti, no Congresso Mundial da Sociedade Teosófica de 1932, na Holanda)



Eu sou apenas um sábio. O Mestre está na Bulgária.” (Onisaburo Deguchi, líder do movimento japonês Omoto)



O mundo todo me rende homenagem, mas eu me curvo diante do Mestre Peter Danov da Bulgária.” (Albert Einstein)



    1. O Eterno Testamento do Espírito



Quem é o Mestre Peter Danov? É provável que nunca tenhamos a resposta exata. Segundo a ciência esotérica, a essência sublime dos habitantes da Terra origina-se do Sol, centro e fonte da vida de nosso sistema estelar. Certamente não se trata do Sol físico, que é apenas o condutor inferior do Ser Supremo – chamado pelos iniciados de ‘Logos Solar’ – mas de sua emanação. Nossas mônadas – centelhas Divinas – não são estáticas: estão, como tudo no Universo, sujeitas a constante evolução.

Há diversas suposições sobre a procedência do Mestre Danov. Se ele veio de nosso Sol espiritual, sem dúvida pertence a alguma de suas hierarquias supremas. Certos pesquisadores atribuem sua origem à estrela Sírius, que, do ponto de vista cósmico é mais antiga e mais desenvolvida que o Sistema Solar. Sírius é uma estrela da qual recebemos poderosas energias e que, de certo modo, dirige nossa evolução, sendo o lugar para onde vão determinados seres humanos que terminaram a fase terrestre de desenvolvimento individual, a fim de continuar seu progresso espiritual. Não faltam ainda opiniões de que ele seria um Enviado do próprio Sol Central de nossa galáxia (a Via-Láctea), que algumas fontes esotéricas denominam Alfiola. Da tentativa de fazer uma análise objetiva, confrontando a personalidade do Mestre com a importância de sua missão aqui na Terra, a última hipótese emerge como a mais lógica.

Como já dissemos, porém, a verdadeira resposta é oculta, e talvez o seja sempre: um mistério do mundo Divino, que as forças Supremas não têm pressa de revelar. O mesmo se aplica a todos os outros Mestres da humanidade, independentemente do que se encontra como revelações na literatura especializada. A única chave segura para a leitura de um enigma cósmico como este é elevar suficientemente a consciência. Para tanto, há métodos conhecidos, divulgados pelos próprios Mestres do Amor, da Sabedoria, da Verdade, da Justiça e da Virtude. Um deles é o búlgaro Peter Danov, cujo lugar entre os Escolhidos é especial, pela simples razão de ser nosso contemporâneo. Ele nos oferece o caminho mais atual e adequado para o amanhã de nosso planeta Terra, para o futuro de nossa civilização e de nosso eu pessoal. Cabe-nos a missão mais importante e de maior responsabilidade: ser, aqui e agora, o que o Criador espera de nós, para juntos realizarmos Seu Plano grandioso para o mundo. Se não, os Mestres Espirituais ficarão sozinhos no palco da vida do Universo. Sábios, amando e perdoando todos os seus ‘filhos’ – caprichosos, débeis, egoístas e ignorantes. Mas nós não deveríamos ser assim! Carregamos o potencial Divino (ver Salmo 81/82, 6) e é nosso dever sagrado desenvolvê-lo e expressá-lo em todo o seu brilho e grandeza – para ser úteis, cada um a seu modo e segundo suas possibilidades, fazendo a própria ‘oferenda’, pessoal e única, no altar do Bem Comum.



Por isso, não é tão necessário saber quem foram os Mestres da Humanidade, qual sua verdadeira gênese, de onde vieram e para onde foram após a encarnação na Terra. Todos Eles cumpriram com honra sua missão principal: anunciar a Síntese da Vida.

Mais importante é saber quem somos nós e o que precisamos fazer, no lugar e no tempo em que vivemos, para podermos erguer-nos com honra diante da Eternidade, onde nos aguarda, com infinita paciência e amor, nosso Pai, Criador de tudo quanto existe.







Sofia, março de 1999

















1A data não pode ser determinada com absoluta precisão. Aqui citamos a que é a mais divulgada na literatura.